Chá quentinho com aroma de orquídea

O aroma diferente recendeu na cozinha; um perfume conhecido, porém não identificado de pronto. Que cheiro novo é esse? Era adocicado, parecido com fragrância de colônia da vó, trazendo reminiscências de infância para o nosso chá noturno. Bingo! Era do chá novo, comprado naquele dia. Uma mistura de camomila, mel e baunilha.

Nunca fui muito fã do sabor de baunilha em alimentos, como doces, bolos e sorvetes, mas o aroma suave emanado da xícara de chá fervendo era de um frescor que nunca sentira antes. Talvez pela mistura com camomila e mel, pensei. E jamais imaginaria, até poucos meses atrás, que a baunilha era uma orquídea – a Vanilla planifolia.

Inebriada pelo vapor perfumado do chá, lembrei de tudo o que aprendi sobre a Orquídea Baunilha nos últimos meses e no tanto de tempo que a cura das vagens demora para que possamos apreciar essa fragrância, extraída de uma substância chamada vanilina.

Existem mais de 35 mil espécies de orquídeas registradas e a Vanilla planifolia é a única que produz vagens comestíveis. É uma orquídea terrestre trepadeira, cresce melhor se plantada no chão e pode alcançar até dez metros de comprimento – uma exagerada. É nativa do México, no entanto a maior produção está na Indonésia e em Madagascar, onde há mais de oitenta mil produtores cadastrados.

Segundo alguns orquidófilos, a flor da Baunilha não tem a menor graça: é pequena, de cor verde-amarelada, não tem perfume, além de a planta ser meio desengonçada. Raramente é polinizada de modo natural, porque as abelhinhas responsáveis por esse trabalho não ocorrem fora da América Central, portanto, desde a polinização, o processo é manual e bastante demorado, o que torna a vanilla uma das especiarias mais caras do mundo.

Para início de conversa, ela só floresce a partir do sétimo ano de cultivo e as flores duram um único dia. Como se dozes horas para polinizar à mão não fosse dificuldade suficiente, a fertilização das flores só pode ser feita de manhã, logo que elas abrem. Imagina transferir o pólen de uma flor para o estigma da outra, uma a uma, em curto tempo. É preciso quase ter mãos mágicas.

Após a polinização, é sentar e esperar para que nasçam as vagens e amadureçam por um período entre oito e nove meses, até que possam ser colhidas quando atingirem uma cor opaca, quase marrom. Agora se inicia o processo de cura, em que as vagens passam por uma secagem, ora ao sol, ora à sombra, em etapas de uma semana cada e, em seguida, um repouso de três meses ao abrigo da luz, tempo para a maturação dos cristais de vanilla e fixação do aroma. Em um processo 100% artesanal, cada vagem é alisada e esticada manualmente, para se tornar a vareta de baunilha que a gente encontra no mercado a preços nada simpáticos. Nos processos mais industrializados, o tempo de cura pode ser mais curto com a ajuda de fornos. Ainda assim, são anos de investimento, do plantio à idade adulta da orquídea, mais a espera de meses pelo amadurecimento das vagens e o período de cura.

Caminho longo para chegar à minha cozinha no aroma do chá e me encantar, a ponto de me levar longe, a construir mentalmente cada passo da produção da baunilha e, detalhe, não fui eu quem tomou o chá. Apenas estava ao lado, em silêncio, desfrutando. Foi quase uma meditação, com perfume e quentura na noite fria.

Foto: Pixabay

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