Papai Noel, não esperava vê-lo tão cedo

Quem me lê há muito tempo sabe que não gosto do Natal. Aliás, não é do Natal; é da fervura natalina que se inicia cada ano mais cedo e termina no dia 24 de dezembro, quando finalmente fecham-se as portas do comércio. Também não vejo a menor graça na comilança exagerada que se faz na ocasião, mas nada tenho a ver com a gula alheia. Desde que começaram a bradar os blim-blim-blom-blom por aí, tento fingir que não ouço, da mesma forma que passo batida pelo piscar das luzinhas e pelo colorido (muitas vezes out) das decorações. Porém, como sempre acontece, o bicho papão corre atrás de quem tem medo, então…

Passei pelo shopping (o único da minha cidade!*) na noite de domingo, tomei um sorvete, comprei umas cositas, sem prestar a atenção aos apelos de Natal. Não vi talvez por um movimento inconsciente, já que não quero ver nada. Há que se considerar que o estabelecimento estava tão cheio, que mal era possível ver algo ou alguém que se destacasse em meio a tanta gente. Afinal, que opções têm o volta-redondense num fim de tarde/início de noite de domingo? E lá estava eu entre todos os sem alternativa.

Aonde quero chegar? No elevador.

Aguardei na fila, de cabeça baixa, altamente distraída, como sempre, até que o elevador chegou e eu entrei, ainda completamente desligada. Passei pela ascensorista, disse meu andar e quando finalmente ergui a cabeça, quase tombei pra trás. Estava diante de ninguém menos que Papai Noel!

Aquela figura enorme, vestida de vermelho da cabeça aos pés, ocupando um terço do elevador, era a última visão que esperava ter, e da qual não poderia fugir, mesmo que meu inconsciente se espremesse e me colocasse em coma. Disse um boa noite sem graça – porque não consegui disfarçar o susto – e me encostei ao fundo, onde a ajudante dele estava sentada no chão, tamanho o cansaço de um dia inteiro levando e trazendo criança pro joelho do bom velhinho.

O problema é que a pessoa não consegue ficar de boca fechada, o que talvez a salvasse do constrangimento. Olhei para a cara do Noel e logo achei um assunto, para tentar ser simpática: “Sua barba é natural, né?”. E ele, todo sorridente, como os bons velhinhos bem treinados: “É, sim. A barba e o cabelo também”. Ao que só pude responder “Que bacana!”. Foi o tempo para o elevador se abrir e murmurar um obrigada à ascensorista. Nem sei pra que lado foi Papai Noel, se ele existe, se existiu, ou se não foi uma alucinação. Como já disse, quem tem medo de bicho papão…

Melhor mesmo seria ficar em casa a partir de agora e só dar as caras pelo comércio em janeiro. Mas é impossível, pois o Natal infelizmente se tornou uma obrigação. Ainda será necessária aquela via crucis (assim a gente lembra d’Ele, né?) atrás de presentes. Mais uma vez, sem alternativa.

Só espero não ter que topar novamente com Papai Noel, este que me lembra cada vez mais que o sentido do Natal não é mais o que aprendi quando criança, nas aulas de catecismo. Só ele tem saco para a insanidade que se vê nas ruas nesta época; eu não.

*Crônica publicada no antigo blog, em 2011. Única coisa que mudou é que agora VR tem dois shoppings.

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