Sim, nós precisamos do feminismo

Muita informação não está clara, outras tantas circulam de modo distorcido, milhares não alcançam a quem deveriam de fato alcançar. E a pergunta que se repete com frequência: “Feminismo pra quê?”

Há quem não queira mexer nessa massa por medo de desandar, afinal, tem poder demais em jogo e, pode parecer estranho, mas há, sim, quem desfrute de uma zona de conforto num ambiente que cultiva o machismo, inclusive mulheres, alheias à opressão a que são submetidas.

A grande maioria dos opositores acredita que feminismo é contrário de machismo. Não, não é. Ser feminista é querer igualdade de direitos, poder tomar decisões por si, definir o que fazer com o próprio corpo, dizer não sem o risco de ser agredida ou mesmo assassinada. Não é objetivo do feminismo querer igualdade física. O que se busca é o respeito e a aceitação de forma natural quando uma mulher resolver não ter filhos e realizar uma cirurgia de ligadura tubária, sem autorização de quem quer que seja, afinal  o corpo é restrito. O meu é meu; o seu é seu. Portanto, deveriam ser observadas duas regrinhas básicas de boa convivência: “não coloque a mão sem ser solicitado” e “sobre meu corpo eu decido”. É necessário e urgente fazer um esforço para compreender o sentido da frase “corpo não pertence a ninguém”.

Feminismo existe para explicar que mulher não veio ao mundo para atender qualquer demanda externa, como ter filhos, ser objeto de desejo e satisfação masculinos, trabalhar feito burro de carga para atender marido, pai, irmão, cunhado. Sim, a mulher pode escolher esta vida, se quiser. O feminismo existe para que mulheres possam escolher e serem respeitadas em sua opção. Se quiser, vai ser dona de casa e será serviçal de homem. Se não quiser, não há quem a obrigue.

O machismo e a objetificação feminina foram tão naturalizados ao longo da história que ainda há mulheres que posam nuas para revistas, que protagonizam comerciais de lingeries que forçam a barra para agradar homens, que se permitem participar de comerciais de cerveja seminuas. Sim, elas podem escolher, claro. A grana é boa. No entanto, sinceramente, não sei se sabem o quanto é ruim para as mulheres em geral associar a imagem feminina a algo pra saborear, pra vender, comprar.

Dia desses ouvi uma mulher dizer que não somente os homens são agressivos com mulheres; “há mulheres que também são agressivas com os homens”. Observação ignara. Falta conhecimento histórico à pessoa que pronuncia tal comentário. Basta ler, pesquisar e estudar para conferir quem é o oprimido e quem é o opressor. Mesma coisa vão dizer sobre a condição dos negros: “Ah, tem muito negro que ocupa cargo de chefia nas grandes empresas”. Diz aí, quantos? Desde quando? Qual a proporção? Historicamente o negro na sociedade foi e é considerado o quê?

O feminismo não quer nada além de garantir nosso lugar ao sol. Em igual proporção que garante aos homens desde que o mundo é mundo. Sem submissão, sem subordinação, sem restrições, sem rechaço, com respeito, com direitos parelhos, sem nenhuma distinção.